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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A juventude e a Umbanda


Começo por destacar o preconceito que nós umbandistas sofremos no nosso dia-a-dia. As brincadeiras de colegas de trabalho, de familiares, de amigos… A expressão de incredulidade quando expressamos sem vergonha a nossa religião. Sim, eu sou UMBANDISTA! E pronto. Logo começa o rebuliço. E as perguntas fluem. Admito e concordo que muitas dessas dúvidas são comuns e até consideráveis, mas é cada coisa que se ouve… E a que devemos toda essa falta de esclarecimento? Todas essas dúvidas que seriam tão fáceis de serem explicadas? A falta de estudo! Muitos acham que ser Umbandista é só chegar no terreiro, incorporar e pronto. Cumpri minha tarefa. Mas a Umbanda também é estudo. Estudo para se entender o porquê do caboclo gritar, o porquê do charuto do Exu ou da água e da vela tanto usadas pelos Pretos Velhos. Estudo para se entender a nossa fé. E aí chegamos a juventude. E sua eterna sede pelo saber (ou ao menos assim deveria ser…). É fraca a presença e a participação de jovens nos terreiros de Umbanda. Talvez por falta de informação ou até por vergonha de serem taxados de macumbeiros. Por quê será que os jovens esperam envelhecer para adentrar em um terreiro e às vezes desencarnam jurando que são espíritas e não umbandistas? Por quê o medo e a vergonha do jovem levantar a bandeira da Sagrada Umbanda? De agradecer a Zambi e desejar a paz de Oxalá? Sei que a nomenclatura não importa. Seja Deus, Alá, Zambi… Mas porque não usar a nomenclatura própria da Umbanda? Será que é tão difícil o jovem lutar para desmistificar a Umbanda? A Umbanda é uma religião aberta que permite diversas interpretações. E isso acaba dificultando o estudo. Estudo para se entender o porquê do caboclo gritar, o porquê do charuto do Exu ou da água e da vela tanto usadas pelos Pretos- Velhos. Às vezes a corrente que você segue no seu atual terreiro não será a corrente (de pensamento) que será no próximo. Não existe uma "bíblia" explicitando a prática e os conceitos da Umbanda. Isso varia de terreiro pra terreiro. Mas será que a troca de experiências não nos auxiliaria a compreender melhor a Umbanda? Não estou propondo aqui uma estilização da Umbanda. Uma unificação de culto. Não! O que digo é, unirmo-nos em uma frente para acabar com o preconceito, com a falta de estudo e compreensão. E poder oferecer esclarecimento para todos que se interessam por essa linda religião. Isso é dever de todo Umbandista! Mas deveria ser um desejo especial o jovem. Lutar pela justiça! Quantas barreiras impostas a Umbanda já não foram quebradas por uma geração anterior a nossa? E o que a nossa geração faz? Nós somos o futuro da Umbanda! Seremos nós que escreveremos os próximos 100 anos de nossa história como religião. Assim como no início. Ou será que esquecemos que foi um jovem o aparelho utilizado para o advento da Umbanda? E que são os jovens, os jovens de espírito principalmente, que lutaram e lutam para que a nossa religião seja respeitada. A Umbanda é juventude! Juventude com seu desejo de se impor sem agredir. 

"Todas as religiões precisam construir seu futuro, precisam preparar os seus adeptos desde a infância de forma que ao chegarem à idade adulta possam dar continuidade aos cultos e ritos, e que o façam com sabedoria e responsabilidade.

A maioria das religiões tem algum tipo de educação preparatória para as gerações mais novas. Educação que inclui moral, ética, orientação para a vida, orientação a respeito de sua religião ( história e tradição, usos e costumes, leis, etc.). Desta forma, as religiões vão construindo um caminho para o futuro,para que haja uma continuidade de seus cultos e o mínimo possível de deturpação por ignorância.  Constroem tradições que ficam internalizadas no espírito de seus adeptos que no futuro serão seus mantenedores.

A Umbanda, no momento em que completa 100 anos de sua institucionalização também deve preocupar-se com isso. Mais que somente pela tradição e pela continuidade, por sua missão de caridade e orientação ao próximo. Para que se formem Homens melhores, que por sua vez construirão o mundo do futuro de forma mais consciente.Isso faz parte da responsabilidade moral e espiritual de uma religião: dar base às novas gerações.

Quando me reporto a um espaço especial para crianças e adolescentes na Umbanda, me refiro à muito mais que tomar passes ou correr pelos terreiros, mais que algumas proveitosas conversas com os pretos velhos e caboclos. Refiro-me a uma programação educativa que inclua um determinado espaço e um determinado tempo (seja semanal, quinzenal ou mensal) para aplicar aulas regulares que informem sobre a vida, a religião e suas mensagens, moral , ética, etc. e assim formem o Homem o cidadão e o umbandista do amanhã.

Faz-se necessário que as crianças e adolescentes reconheçam em cada templo , mais que um lugar onde vão conversar e tomar passes, é preciso que reconheçam seus templos como um espaço ao qual vão para praticar seu encontro com o Sagrado e onde serão recebidas com a devida atenção e o devido preparo por parte daqueles que forem seus  evangelizadores, professores da religião ou orientadores, o nome que se dará a essa figura ou à essas aulas é o que menos importa. Importa que exista esse espaço próprio para receber crianças e adolescentes e que essas o reconheçam como seu espaço de aprendizagem exercício espiritual. Importa que aqueles que se dispuserem  a tal tarefa se preparem muito bem para receber esses espíritos tão cheios de energia, disposição e curiosidade.  Importa que esse seja um espaço onde tanto uns como outros se sintam acolhidos e seguros, onde haja instrutores com a disposição para ouvi-los e esclarecê-los, que falem a sua linguagem, que os compreendam. Que as crianças e adolescentes tenham a quem recorrer para tirar suas dúvidas sem medo e sem pressa. Alguém que saibam que está ali especialmente para isso e que estará preparado para dar-lhes toda a atenção de que precisem. Que sintam prazer em comparecer às aulas e saiam de cada aulameditando sobre o seu conteúdo cheios de novas perguntas e pensamentos bons na cabeças, ansiosos para que chegue a próxima aula.

O conteúdo programático deve ser desenvolvido pela direção da casa com a supervisão e a chancela da espiritualidade. Deve estar de acordo com o direcionamento espiritual, ritualístico e filosófico de cada templo.  O principal é que tal conteúdo inclua boas maneiras, ética, moral, história do seu templo, história da Umbanda, lições de amor e paz de grandes autores, parábolas educativas de Jesus ( já há livros infanto-juvenis que contam as parábolas em linguagem atualizada e sem dogmatismo podendo ser utilizadas por qualquer religião ou mesmo sem compromisso com nenhuma). Tal programa deve ainda conter explicações sobre a espiritualidade e os fundamentos da Umbanda e  seus orixás e guias, orientações sobre o poder das energias, etc. Precisa ainda, ser dividido por faixa-etária, de forma a não ficar além ou aquém do alcance mental e emocional de cada turma.

A Umbanda precisa criar em suas crianças e adolescentes o orgulho sadio de pertencer a uma religião e o “poder” de saber o suficiente para dissertarem sobre ela quando entre seus amigos e colegas  seja na escola , seja nos pátios ou nas praças. As crianças e adolescentes umbandistas  passam muitas vezes por constrangimentos que vem menos do fato de freqüentarem a Umbanda e muito mais do fato de não saberem que são umbandistas e não possuírem argumentos para fundamentar numa conversa o que é a Umbanda e que são umbandistas.  E aqui entra também a importância de que essas crianças e adolescentes tenham conhecimento não somente da Umbanda como uma visão geral de outras religiões.

Ilude-se aquele que pensa que as crianças e jovens não se preocupam com religião , que não conversam sobre o tema e que não se constrangem por não conhecê-lo. Engana-se profundamente o adulto que imagina que apenas a mera presença da criança nos dias de sessão e um passe ou uma conversa com as entidades bastem para a juventude de hoje. Não bastam! As crianças de nossos dias e os adolescentes não são tão desinteressados ou desligados quanto se quer pensar. Têm outras necessidades. São a geração do 3º Milênio. Espíritos que tem um enorme cabedal de conhecimento acumulado e que estão nascendo numa era de informações ultra-rápidas. Suas mentes parecem já vir com acelerador para recepção de conhecimentos. Seu mundo é um mundo de informações instantâneas onde não ter informação e principalmente, não ter formação podem gerar um sentimento de caos, de insegurança, de ter sido negligenciado e excluído de alguma coisa ou de não ser importante para a religião  ou de que não deve importar-se com ela.

Muitos dirão não haver necessidade de tal processo educativo infanto-juvenil. Outros, que bastará deixá-los conversar com uma entidade ou outra que os tratará certamente com todo o amor e a sabedoria. Outros que isso é obrigação dos pais. Outros, que sempre foi assim e sempre deu certo até agora - aesses informo que estão infelizmente “parados no tempo”  e  que o tempo não pára, ao contrário aprece acelerar mais e mais a cada dia.Crianças não nascem mais de olhos fechados, aos 30 anos dominam o controle remoto e aos 5  dão banho em adultos quando o assunto é computador.


É preciso lembrar que são eles, crianças e adolescentes, que vivem num mundo dinâmico onde o tempo se torna cada vez mais curto e os pais cada vez menos presentes, são eles, que necessitam desse espaço-tempo. De inclusão plena. De uma base que parta do geral para o particular.  E são eles o futuro da Umbanda , do país do mundo.

Se a Umbanda, essa mesma Umbanda que hoje se organiza em conselhos, organiza encontros , locutórios , cursos, seminários e palestras, e busca fazer ouvir sua voz, marcar seu espaço ao sol, influir e opinar sobre os assuntos da nação,  Se essa Umbanda não perceber o grito silencioso das necessidades de suas crianças e jovens ( e não somente umbandistas, mas todos) então estará lutando por nada. Abandonando enfraquecendo os elos da corrente e será responsável pelo que deixar de fazer por e para essas gerações.

Aos umbandistas: zeladores , filhos de santo, ogãns e ekedi/sambas, freqüentadores da assistência, um apelo para que meditem sobre o assunto. Pesem suas responsabilidades diante do Astral , da Sociedade e de si mesmos, não se prendam somente à caridade socorrista seja no atendimento aos necessitados nos terreiros, seja em cestas básicas e campanhas diversas.  A responsabilidade dos umbandistas prende-se também, e com certeza será cobrado de cada um, à educação das futuras gerações, ao amparo não somente físico e espiritual, mas moral e mental.  Socorrer, orientar, amparar, ouvir, aprender, ensinar e sedimentar o bem, a fé e o amor nos corações das próximas gerações é tarefa de todo aquele que se pretende religioso, portando religado ao Pai, como irmãos mais velhos devem sempre cuidar dos mais novos.

É indispensável amar (na prática) nossas crianças e os nossos jovens, ensinar aos pequenos a importância dos valores morais, da ética, da fé, da confiança, do amor incondicional, da prudência, da tolerância.Infelizmente, o tempo em que somente exemplificar bastava já se foi. Hoje, mais que nunca é preciso vigiar e orar, como também é preciso por em prática, compartilhar, chamar a si a responsabilidade, envolver e entreter nossas futuras gerações em aprendizados úteis, para que participem ativamente, encontrem um espaço de seu na Umbanda e no mundo.  Imperativo que a Umbanda cuide bem dessas novas vidas que as abrigue em seu seio amoroso e que não às deixe à deriva, escapando como água pelos dedos abertos, entregues às vicissitudes da vida por falta de um espaço seu, onde possa aprender , se refugiar, se equilibrar, encontrar soluções, orientações e caminhos . Essa responsabilidade é de todos os umbandistas. A omissão desse espaço-tempo é falta grave, pela qual o futuro cobrará nesta e em outras vidas."


Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça, Quem tem olhos para ver que veja e Quem sentir que é hora de arregaçar as mangas e abrir um sorriso que o faça.



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