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terça-feira, 7 de abril de 2015

As saudações, os cantos e louvações implícitas nas canções “populares”.



Não é de hoje que a manifestação aos Orixás, entidades e doutrina, fazem parte do repertório de muitos cantores populares de diversos gêneros.
Esperadamente, temos sempre olhos aos artistas nordestinos, assim também como o ritmo e a cultura vinda de lá. Porém, muito além desta região, outros intérpretes e autores, já levaram a bandeira a todo país, de maneira discreta, mas bem presente e escancarada.

No início dos anos 80, de maneira tímida e controversa, os terreiros de Umbanda e Candomblé, começaram a obter grandes números de frequentadores e adeptos. Muitos famosos cantores, tais como Clara Nunes, Gilberto Gil, Caetano Velozo, Gal Costa, Martinho da Vila, Leci Brandão, Alcione, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Novos Baianos, Zeca Baleiro, Wilson Simonal, Simone, entre outros, dessa época. Dessa maneira, sempre mostravam a força e a fé nos Deuses, num “samba” qualquer:


“ eu sambo pela noite inteira, até amanhã de manhã, sou a mineira guerreira, Filha de Ogun com Iansã”

Em “guerreira”, Clara Nunes “samba” a noite inteira. Devido ao som dos atabaques, ritmos como nagô e angola, sempre usados nas rodas de samba, a expressão se estendeu ao ritual.Na época, até mesmo para esconder a simpatia ou a frequente visita aos terreiros, dizia-se que iria até um samba!!
Nesta música ela conta:

Se vocês querem saber quem eu sou
Eu sou a tal mineira
Filha de Angola, de Ketu e NagôDicas de quais são seus Orixás e qualidades
Não sou de brincadeira
Canto pelos sete cantos – louvo as sete linhas da Umbanda
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci,
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira – não temerá o preconceito
Bole com samba que eu caio(“bolar no santo” termo usado para incorporação) e balanço o baláio(corpo) no som dos tantãs
Rebolo, que deito e que rolo,
Me embalo e me embolo nos balangandãs
Bambeia de lá que eu bambeio nesse bamboleio
Que eu sou bam-bam-bam
E o samba não tem cambalacho,
Vai de cima embaixo pra quem é seu fã
Eu sambo pela noite inteira,
Até amanhã de manhã – ( uma festa no candomblé, normalmente inicia-se as 22h e vai até as 5h” amanhã de manhã”)
Sou a mineira guerreira,
Filha de Ogum com Iansã
E de uma maneira bem EXPLÍCITA, NO FINAL DA MÚSICA, escancara-se a bandeira:

Salve o Nosso Senhor Jesus Cristo, Epa Babá, Oxalá!
Salve São Jorge Guerreiro, Ogum, Ogunhê, meu Pai!
Salve Santa Bárbara, Eparrei, minha mãe Iansã!
Salve São Pedro, Kawô Cabecilê, Xangô!
Salve São Sebastião, Okê Arô, Oxóssi!
Salve Nossa Senhora da Conceição, Odofiaba, Yemanjá!
Salve Nossa Senhora da Glória, oraieiêio, Oxum!
Salve Nossa Senhora de Santana, Nanã Burukê, Saluba, vovó!
Salve São Lázaro, Atotô, Obaluaiê!
Salve São Bartolomeu, Arrobobóy, Oxumaré!
Salve o povo da rua, salve as crianças, salve os pretos velhos;
Pai Antônio, Pai Joaquim de Angola, vovó Maria Conga, sarava!
E salve o rei Nagô!


Entre tantos cantores, nos dias mais atuais e estilos diferentes, temos o Rappa em “Lado B LadoA”

“ ...se eles são exus eu sou Iemanjá – força negativa de entidades, contra a grande Orixá, possivelmente sua mãe
     Com o corpo fechado ninguém vai me pegar – neste trecho, o vocalista Falcão, mostra que já é “feito no santo”


Nesta música, mais uma vez, Clara Nunes, exalta o “amor canoeiro”, amor fraco, empolgação, fogo de palha, pela religião e pelo novo. Sábia cantora, muito visto isso ainda nos dias de hoje...


“Conto de areia”, relata desta maneira:

Contam que toda tristeza
Que tem na Bahia
Nasceu de uns olhos morenos
Molhados de mar
-  “uma pessoa com problemas sérios, onde o choro era o seu instante”
Não sei se é conto de areia
Ou se é fantasia
Que a luz da candeia alumia
Pra gente contar –
Clara não viveu ou conheceu isso, provável conto da mãe de santo, etc. Possível alerta dado a Clara.
Um dia morena enfeitada
De rosas e rendas – vestida para o BORI –
Ritual de banho de sangue, na raspagem de cabeça
Abriu seu sorriso de moça
E pediu pra dançar –
Pronta para ser (Abiã)
A noite emprestou as estrelas
Bordadas de prata
E as águas de Amaralina
Eram gotas de luar.
Era um peito só
Cheio de promessa era só
Era um peito só cheio de promessa –
após a feitura no santo, e o juramento, teve a visita mais leviana de todas (empolgação)

Quem foi que mandou
O seu amor
Se fazer de canoeiro – amor que alterna altos e baixos (fé duvidosa)
O vento que rola das palmas
Arrasta o veleiro– “palmas” batidas tão fortes, que arrastariam Veleiros(embarcações), provável ebó para  a necessitada filha de santo

E leva pro meio das águas
de Iemanjá
– Banhando a filha na casa de sua mãe, como um dos últimos trabalhos a ser feito.
E o mestre valente vagueia
Olhando pra areia sem poder chegar
sendo Observada pelo seu pai, Ogun (mestre valente)
Adeus, amor ...Adeus, meu amor
Não me espera
Porque eu já vou me embora
Pro reino que esconde os tesouros
De minha senhora – Fundo do mar, neste ponto da música, a filha irá suicidar-se
Desfia colares de conchas
Pra vida passar
E deixa de olhar pros veleiros
Adeus meu amor eu não vou mais voltar
Foi beira mar, foi beira mar que chamou
Foi beira mar ê, foi beira mar –
Ogun (beira mar, qualidade de Ogun), que a salvou, “chamou”.
Também acompanhamos nas músicas de Zeca Pagodinho, entre tantos agradecimentos claros, um bem implícito para Exu, nesta musica “pisa como eu pisei”
Chega como eu cheguei
Pisa como eu pisei
No chão que me consagrou
Olha que lei é lei
Lei que eu nunca burlei
Pois Deus me designou – Exu de lei, Coroado, batizado
Ao me ver já diz que me conhece
Sem saber bem quem eu sou
Conhece mas desconhece
Meu real interior –
julgamento a exu, como demônio, extremo mal ou extremo bem
Eu só verso e sou reverso
Sou patícula do universo
Sou prazer, também sou dor
Eu sou caldo, eu sou efeito
Eu sou torto, eu sou direito
Enfim, eu sou como eu sou.....
enfim.... Exu

Recentemente, O Rappa, mais uma vez demonstra sua fé através da Música “Boa noite Xangô”

Quando o coração bateu veloz
Saudade foi embora,
Vida começa agora
Sigo a multidão, não sou ninguém
Depois que te encontrei,
Alguma coisa me fez tão bem
(Soou feliz, feliz, feliz)

Passo a perceber ao meu redor
Outros planos, outra cor
E se essa vibe nasceu em nós,
Oh Vibe!
Melhor deixar crescer
Oh vibe! Oh vibe! Oh Vibe!

Noite chegou,
Uma estrela caiu no mar
Boa noite Xangô,
Anjo de Iemanjá.
Neste trecho, é ressaltado a qualidade de Xangô (aganju, possui ligação com Iemanjá)





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