Exu Marabô - (Put Satanakia ) –. É determinado a esse Exú, a
fiscalização do plano físico, distribuindo ordens aos seus comandados.
Apresenta-se como um autêntico cavalheiro, dominando o francês, apreciando
bebidas finas e os melhores charutos. Educado e calmo aconselha e determina as
tarefas das falanges das matas a atuarem em formações de atendimento
imediato.
Exu Marabô está em terra. Os poucos filhos que acompanham aquele terreiro vibram com sua presença. Na assistência algumas pessoas ansiosas aguardam para serem atendidas. O Exú ri, dança, bebe desenfreadamente.
Atende uma filha da casa recém-casada. Fala para a filha tomar cuidado com o marido, pois ele vai traí-la em breve. A moça desespera-se. Ele então passa uma longa lista para realizar o trabalho salvador. Sabe que já plantou a semente irreversível da desconfiança no jovem casal. Na assistência um pequeno empresário aguarda atendimento. O Exú diz que a firma não falirá, para isso precisa de vultuosa quantia em dinheiro para trabalho urgente. Chega a vez de uma médium, filha de outro terreiro, que visita pela primeira vez a casa. Mais uma vez o compadre não se faz de rogado. Diz para a pequena sair do terreiro que freqüenta, pois segundo ele a mãe de santo não entende nada sobre Umbanda. E assim ele vai plantando a discórdia, a desunião, a dor.
Sempre que pode humilha publicamente os filhos da casa.
Os dias passam sem novidades.
O que ninguém ali imagina é que por trás daquela entidade que se diz chamar Marabô, está escondido um enorme quiúmba. Aproveitando-se do fato do tal pai de santo ser pessoa leiga, gananciosa e totalmente despreparado, ele domina o mental do incauto médium. Diverte-se com a angústia dos outros. Sempre que pode põe o pai de santo em enrascadas (cheques sem fundos, golpes que são descobertos constantemente, brigas e desunião em família). E o pai de santo não tem escrúpulos algum em usar o nome de um grande e respeitado Exú de Lei. Ao contrário, fica feliz em saber que aos poucos vai minando a credibilidade do verdadeiro Marabô. O Exú raciocina que o dia em que as trapalhadas colocarão tudo a perder e ele simplesmente abandonará o falso pai de santo à própria sorte. Não será o primeiro nem o último que ele abandonará. Afinal pensa o quiúmba, não fora ele que médium ainda novo, desenvolvendo, resolveu mistificar para dar uma abreviada no processo mediúnico de desenvolvimento? Não fora também por conta própria que o médium abandonara o terreiro de sua mãe de santo, sem ter preparo algum? Sem falar que enquanto esteve lá, desrespeitava os ensinamentos da casa, zombava dos irmãos de santo, dava golpes em tantos médiuns que muitos pediram até sua expulsão da casa? Pois então fora ele mesmo que atraiu o quiúmba e sendo assim essa sociedade duraria até quando fosse possível.
O ser do umbral ganhando energia negativa, achincalhando Marabô, e o falso pai de santo ganhando dinheiro. O quiúmba também aproveitava para trazer em terra seus falangeiros, que se aproveitam dos médiuns titubeantes da casa.
Hoje é dia de gira, no atabaque o atabaqueiro já está devidamente bêbado e sob influência dos asseclas do quiúmba. As filhas e filhos da casa cegos em sua fé e sob forte energia maléfica, são capazes de aceitar qualquer loucura ali realizadas. O falso Marabô está feliz, já olhou a assistência antes de incorporar.
Notou algumas pessoas que não lhe despertaram interesse.
Algumas mulheres velhas e sem dinheiro, um homem que também não traz dinheiro algum. Vai se divertir com eles. Pronto já está em terra!
Atende a assistência como de costume, diverte-se com as angústias, os medos, as dores daquelas pobres almas.
Chega a vez do homem que estava na assistência, ele adentra de maneira lenta. O quiúmba não lhe dá a mínima atenção.
Um erro fatal.
Pois assim que o homem fica frente a frente com o ser do umbral algo inusitado acontece: o homem incorpora, solta uma gargalhada jovial e desafiadora. Alguns médiuns do terreiro que mistificavam ou recebiam alguns asseclas do quiúmba “desincorporam” convenientemente.
O atabaqueiro de tão bêbado, acaba por cair ao lado do tambor.
A assistência não entende o que se passa.
O quiúmba entende, mas para ele é tarde demais.
Por estar incorporado ele não tem tanta desenvoltura como gostaria nesse momento crucial. Está só, já que os covardes que o seguiam fugiram dali.
Um verdadeiro Marabô está ali diante dele e avança em sua direção.
No congá as velas começam a queimar a cortina que protege o altar.
Na cafua a pinga aquecida pelas velas também se incendeia.
A assistência percebe que algo muito errado está acontecendo e fogem todos.
Antes o verdadeiro Marabô se vira para eles e mostra o quanto foram tolos em se deixar enganar. Fala que devem procurar ajuda, mas em terreiros sérios aonde se pratica a caridade, o amor e a união. Mostra o quanto foram usados.
O quiúmba protesta, mas é inútil, a máscara já caiu.
Marabô não está só, sua falange e muitos Exús de Lei estão adentrando no falso terreiro.
O quiúmba é capturado e levado para o Reino de Exú, onde pagará caro pela insolência.
O falso pai de santo está entregue a própria sorte.
As chamas consomem o terreiro velozmente.
Ao chegar as primeiras viaturas do Corpo de Bombeiro o oficial de plantão presencia uma cena que jamais esquecerá: no meio das chamas o pai de santo é tragado pelo fogo e desencarna diante dos olhos do atônito bombeiro.
Uma risada se faz ouvir. Marabô gargalha satisfeito do outro lado. Apesar das chamas o bombeiro sente um frio que lhe percorre a espinha. O terreiro e o "pai de santo" viram cinzas.
Justiça foi feita.
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